quarta-feira, novembro 30, 2005

Recebi o texto abaixo por e-mail e não posso deixar de publicá-lo aqui:

O MEDO CAUSADO PELA INTELIGÊNCIA
(José Alberto Gueiros)

Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu
discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar,
amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho
naquela assembléia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de
Churchill e disse, em tom paternal:
- "Meu jovem você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante este seu
primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável. Devia ter começado um
pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência
que demonstrou hoje, deve ter conquistado no mínimo uns trinta
inimigos.
O talento assusta!"

E ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pode
dar ao pupilo que se inicia numa carreira difícil. A maior parte das
pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um
indisfarçável medo da inteligência. Isso na Inglaterra. Imaginem aqui
no Brasil. Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa:
"Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma Ciência."

Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais
obstinados na conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados
pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder. Mas é
preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e
ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas
com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem
passar. Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas,
as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos.

Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do "Elogio da
Loucura", de Erasmo de Roterdan, somos forçados a admitir que uma
pessoa precise fingir-se de burra se quiser vencer na vida. É pecado fazer
sombra a alguém até numa conversa social.

Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota
automaticamente a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo
de convivência, por medo de perder seus maridos, também os encastelados
medíocres se fecham como ostras à simples aparição de um talentoso
jovem que os possa ameaçar. Eles conhecem bem suas limitações, sabem como
lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna
nas costas, enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais
lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se
defender. É um paradoxo angustiante.

Infelizmente temos de viver segundo essas regras absurdas que
transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida.

Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues. "Finge-te de
idiota e terás o céu e a terra."

O problema é que os inteligentes gostam de brilhar, que Deus os
proteja!

Jornal da Bahia
Sábado, 23/09/79

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